quinta-feira, 12 de março de 2009

1 - Memorial - Trajetória Acadêmica

Em 1990, aos 5 anos de idade, Roberta pisou pela primeira vez numa escola. Localizada num apêndice da igreja do bairro, o colégio Tic Tac não foi palco de momentos felizes para a garotinha. As aulas de pintura e o sagu servido na merenda não apeteciam. Ela queria escrever e fazer contas.

A ânsia para satisfazer essas necessidades levou seu pai, Roberto, um engenheiro orgulhoso da pequena, à "instalar" uma lousa no tronco de uma árvore na chácara da família, em Jaguariúna. E foi alí, aos domingos, que Roberta aprendeu a escrever o próprio nome e a somar os primeiros algarismos da jornada.

Cansada dos lápis de cor e enjoada do sagu, o Tic Tac virou passado depois da décima volta pra casa nos braços da mãe e aos soluços. Era hora de aprender.
No início do ano seguinte, os pais conversaram na diretoria do Colégio Doctus, em Campinas, no bairro onde moravam. Seria preciso fazer um teste para poder ingressar Roberta à primeira série do Ensino Fundamental, sem ter concluído o (antigo) Pré. E ela não desapontou. De 10 questões até hoje bem vivas na memória, o único erro foi a questão 2, em que pedia-se escrever todos os algarismo do 1 ao 20. E seguiu: "1, 2, 3,..., 17, 18, 19, 19.". "O que é que vinha mesmo depois do 19?".

E assim foram os anos, todos no mesmo colégio, e muitos choros vieram. Provas de ciências já testavam o pequeno coração, mas nada como as tão temidas provas de Matemática. O fardo era pesado. As dúvidas começavam a se acumular, e por volta da sexta série, em 1996, os pedidos de ajuda ao pai, velho mestre, começavam a aumentar. Momentos de tensão eram vividos, já que Roberto não tinha lá muita paciência mais com a "futura médica" da família. Sim, ela acreditava na Medicina.
E mais anos se passaram, até que o vestibular começava a virar assunto, e a oitava série anunciava que era hora de procurar um colégio que também pensasse mais no assunto. E em 1999, o primeiro ano do Ensino Médio estava destinado ao Colégio Integral, dessa vez longe de casa.
Medos, insegurança e a sensação de falta de base predominaram no início. A catástrofe ficou por conta de Matemática, com um triste 2,1 para uma média 6,0. Algo precisava ser feito.

O colégio, de fato, era forte. Plantões de dúvida substituíram o Pica-pau que ainda alegrava as manhãs. E foi alí que Andréia, uma moça humilde e recém-formada em Matemática ajudava Roberta e outros tantos com tantas dúvidas.

As provas vinham e as dúvidas já em menor número a faziam ver que correr atrás do prejuízo era preciso. As notas a recompensaram com um 5,1, mas, ainda abaixo da média. E aquilo virou questão de honra! Mais horas no plantão, mais exercícios resolvidos, e o terceiro bimestre já coroava um 8,5. Mas ainda era possível melhorar, e Matemática foi vencida com o último 9,8 do ano.

Medicina já havia sido deixada de lado após alguns episódios de tontura quando a menina fora posta diante de um dedo cortado da colega. O que brilhava agora era a Engenharia de Alimentos.

E em 2001, o fim do colégio. Pessoalmente marcado por uma sensação de início da adolescência, atrasado, talvez, e academicamente promissor.
Foram precisos 2 anos de cursinho e 3 tentativas para o vestibular em Alimentos. Na Unesp, Roberta foi aprovada, mas na Unicamp, que era o grande sonho, a aprovação veio em Matemática. Licenciatura em Matemática. E foi em Campinas, em 2004, que a vida universitária começou.

Ironia do destino, talvez. Depois de tantas noites mal dormidas por conta dos números, depois de tantas pragas rogadas à Báskara e seus colegas de aventura, era à Matemática que seriam dedicados aqueles dias.

Durante os primeiros anos, o curso apenas seguiu. Sem amores ou dissabores, o curso seguiu. Mas em 2006 a paixão acabou. O curso ficou pesado. E ela percebeu que gostava mesmo era de escrever.

Os anos ainda não terminaram e o peso ainda não saiu. A vontade de escrever é o que a impulsiona. E o impulso é para terminar Matemática, saudosa pelos dias de alegria aritmética, mas com olhos de quem vai, tentar ir atrás do que realmente a faz sorrir: escrever. Escrever e escrever.

4 comentários:

  1. A ordem das coisas foi invertida... ;)
    Seu namorado mora aonde?
    Pouco provável que eu o tenha conhecido na época do ISJ.

    Muito legal seu texto, por sinal.
    Muito bem escrito!
    E é interessante constatar a ironia do destino...

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  2. Olá Roberta, ex-companheira de instituto: IMECC!
    Muito interessante essa sua garra em vencer os obstáculos da matemática, tanto que ficou alguns anos nesse pesado curso.
    Sei que é bem difícil, já tive vontade de desistir e seguir para outra área, mas acho que gosto desse "sofrimento" e acabei me acostumando com tudo isso. Está acabando!
    Boa sorte nessa nova etapa da sua vida, e escreva...escreva!

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  3. E o que é fácil na vida?
    A necessidade de superar desafios, o doce sabor de conseguir fazê-lo. Horas de estudo, de dedicação, por vezes as lágrimas nos quiseram barar, mas o desafio de superarmos as nossas inseguranças é decisivo.
    A escolha do curso como decidir o que faremos a que nos dedicaremos, diante de tantas atratividades? Entendo sua indecisão...
    Decidi inserir esse comentário para você tanto pela sua ainda aparente insegurança, quanto para citar não lembro quem: "não se pode inflamar ninguém, se você não estiver em chamas".
    Por isso seja lá o que for que você decidir se apaixone! ame a matématica e/ou as palavras mas ame.
    Um grande abraço!

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  4. Olá Roberta!
    Escolhi seu blog para deixar o comentário da ativ 2 por ter me identificado com algumas partes da sua trajetória. Assim como você, entrei muito cedo na escola e também tive o mesmo problema, queria escrever, e não só ficar na escola brincando. Acabou que no meio do ano a diretora me passou para a serie seguinte, então voltei a me motivar!
    Um ponto divergente é a matemática, desde que me lembro adoro matemática, no colégio era a matéria que me dava melhor, o que não era seu caso, ne? Porém vc aprendeu a gostar dessa maravilha, rsrs.
    Tem também o fato de ambas um dia ter pensado em fazer medicina, mas pelo jeito vimos que não era a área correta, o certo mesmo seria exatas, onde estamos. Apesar que no seu caso você está mas gosta mesmo é de escrever, não é? rsrs
    Boa sorte na sua trajetória, que você consiga prosseguir fazendo o que lhe faz bem, seja com os números, seja com as letras!

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